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Carta ao pai Sunday, August 10, 2008

Posted by Ágata in Citações, Pensando..., Textos aleatórios.
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Há semanas a TV bate na tecla do dia dos pais. Hoje, idem: especial com pais e filhos em todos os canais da TV, no meu jornal de domingo que eu leio no pufe amarelo. E todas as vezes que eu ouço sobre isso minha cabeça fica sem saber o que fazer. E, enquanto eu escrevo aqui, meu estômago dá uma embrulhadinha que eu sei que não tem nada a ver com a ressaca de ontem.

É medinho.

Medinho de sentir, de falar. Medinho de desabafar. Medo de que ele leia ou de que ele não leia.

Eu também tamtenho esse blog como uma forma dos meus amigos poderem estar perto de mim, mesmo que eu não saiba. Alguns amigos daqui do Rio e de São Paulo eu sei que leem, por que eles me falaram, mas ainda assim sobra muita visita – uma média de 20 por dia – que não vem das buscas nem por causa de trechos da Clarice ou do João do Rio. Não precisa falar nada, não precisa dizer que está aí se não quiser. Eu sinto um certo carinho no silêncio, e de qualquer forma ele me permite imaginar que talvez algumas pessoas queridas possam saber como eu estou. Isso aqui também é isso: mantenho um quase-diário aberto para que possam saber de mim, e talvez se sentirem perto mesmo não estando. Escrevo para que leiam. Escrevo, principalmente porque as vezes não consigo falar.

Meu pai é uma das pessoas que eu não sei se me leem. Eu sei que ele já comentou anteriormente em um blog meu, mas isso faz muito tempo atrás, e eu nem sei se ele sabe da exist~encia desse. Esse é um dos problemas. Como acho que dá pra perceber, eu não falo muito com meu pai.

Nunca brigamos nem nada, não é isso. As vezes acho que até preferia que fosse, as vezes fico pensando se eu também deixei isso acontecer por não saber brigar – mas não é pra falar do “também” nem do não saber brigar que estou aqui (hoje). Nós nunca brigamos, mas desde uns 14, 15 anos tem esse afastamento. Meus irmãos iam atrás dele, idolatravam, e eu não. Não é que não gostasse dele – quando era criança ele era meu herói. Mas eu era uma adolescente que pela primeira vez tinha amigos com quem sair, então eu saia com eles. E meu pai sempre parecia não ligar. Só que depois, não sei se de propósito ou não, era como se ele também não ligasse quando eu estava lá. Comecei a me sentir hostilizada por não estar presente, mas achava injusto, porque estava arrumando amigos, tendo minha vida e porque, afinal, ele que era meu pai e devia sempre estar aqui pra mim.

E na maioria das vezes ele não estava.

E isso me deixava brava, e me deixava triste.

Eu acho que ele só ficou sabendo da minha mudança pro Rio algumas semanas antes, e eu que liguei pra aisar. Eu fiquei feito idiota até quase uma da manhã esperando ele chegar pra dançar comigo, na minha formatura do ensino médio, mas ele não foi nem nunca se justificou. Estou no Rio há quase três anos, e se ele me ligou seis vezes foi muito. Sabe, pra saber se eu estava viva ou morta, se tinha dinheiro pra comer ou ia pra faculdade. E, ainda assim, a última vez que o vi, em fevereiro, decicida a brigar por achar que ele estava magoando meus irmãos da mesma maneira que tinha magoado a mim – e que façam algo com meus irmãos eu não admito – eu fiquei encantada e boba pela atenção que ele me deu. Porque no fundo ainda quero que ele me dê atenção.

Ano passado, perdi uma pessoa muito querida – é, a perda também foi minha – que teria sido minha escolha se antes de nascer eu pudesse apontar uma pessoa e dizer “olha, quero que meu pai seja aquele lá”. E a quem eu nunca pude contar isso e nem sonhar em chamar de pai. Essa impossibilidade me doia mais que tudo durante o enterro, o chorar incessante ao saber que ninguém entendia o que, para mim, era aquela impossibilidade.

Impossível. Porque ainda hoje me é impossível ligar pro meu pai em SP e falar um “feliz dia dos pais” o “eu te amo”. Nunca disse “te amo” pro meu pai, nem vice-versa, mas eu sabia que ele se importava porque sempre estava presente. E agora há muito tempo ele não está. Ou, pelo menos, eu não sinto que está. Então eu espero que esteja enganada e que ele acompanhe minha vida e se preocupe, sim, mesmo anônimo. Pai, não fique ofendido com minha braveza, mas é que eu, Xan e Thamires somos só crianças que querem seu apoio e aprovação e presença, e você que tem que oferecer isso, não nós que temos que ir atrás. Você é o pai que tem que nos dar apoio e suporte – tem suas obrigações. Você é o adulto, lembra?

E mesmo que eu também tenha me tornado adulta a essa hora – mais adulta que muita gente, talvez mais adulta que você – espero que você leia e saiba que ainda assim sua presença faz falta. Ter um pai vivo ao qual eu não posso efetivamente chamar de pai me parece um desaforo frente a tantos amigos com tantos amigos com perdas que gostariam do pai perto.

Espero que você leia e que ano que vem eu possa te ligar.

Pronto, falei.

“- Stop talking about love… every asshole in the world says he loves somebody. It means nothing.

– But it’s true.

– It still doesn’t mean anything. What you feel only matters to you. It’s what you do to the people you say you love, that’s what matters. It’s the only thing that counts.”

Comments»

1. °Rafa° - Monday, August 11, 2008

Eu sou uma das pessoas que vem aqui todos os dias… pra diminuir um pouquinho da saudade que se acumula.

2. nathasha - Tuesday, August 12, 2008

Será que um dia vc vai quebrar esse silêncio com seu pai?

3. °Rafa° - Tuesday, August 12, 2008

tentei te ligar agora a pouco mas acho que você ja saiu.


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